O coração ao centro e o coração do lado esquerdo foram esculpidos em madeira de Acácia. |
Em frente à casa havia uma acácia. Crescera durante 40 anos
e tornara-se abrigo de verdilhões e toutinegras. De folha perene abrigava-os da
chuva do Inverno e da inclemência do sol do Estio.
Em assembleia de condomínio, todos os condóminos excepto o rés-do-chão
onde a árvore se encontrava, sentenciaram contra a acácia: porque dava cabo de
tudo, porque era árvore de cemitério, porque roubava ao primeiro andar a vista
para a esplanada da taberna em frente, porque atraía bicharada…
O corte da árvore foi adiado anos sucessivos. Porém o muro
que vedava a propriedade, empurrado pelo tronco da acácia cada vez se inclinava
mais e o risco de rotura era evidente. Esperou-se o Inverno e a sua dormência
para o abate da Acácia. Num dia sem planeamento chamou-se um serrador e a
árvore foi decepada.
O seu corte constituiu espectáculo para a vizinhança e para
os costumeiros fregueses da taberna. O esforço na recolha de toda a ramagem da
árvore e o seccionamento do tronco, deixou sequiosos os amigos do petisco e abriu-lhes
o apetite. O taberneiro viu o negócio do “snack-bar” aumentar. O
abate da árvore quebrou o tédio e diluiu a sobriedade na medida do aumento do
número de rodadas ensopado pelos convivas, daquela tarde ensolarada de
Inverno.
Ficaram aqueles troncos cortados como relíquia da
hospitalidade que a árvore dispensava a chapins e felosas, melros e
milheirinhas. Da Acácia nasceram várias esculturas, relicários em forma de mão,
de coração… No sítio da Acácia nascem agora as flores brancas do jasmim e do
aloendro, a flor de S. José,
o carpinteiro.
A mão foi esculpida em madeira de Acácia. |
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