quarta-feira, 11 de maio de 2016

Para melhor compreensão das esculturas de Beatriz Cunha.




O coração ao centro e o coração do lado esquerdo foram esculpidos em madeira de Acácia.

Em frente à casa havia uma acácia. Crescera durante 40 anos e tornara-se abrigo de verdilhões e toutinegras. De folha perene abrigava-os da chuva do Inverno e da inclemência do sol do Estio.

Em assembleia de condomínio, todos os condóminos excepto o rés-do-chão onde a árvore se encontrava, sentenciaram contra a acácia: porque dava cabo de tudo, porque era árvore de cemitério, porque roubava ao primeiro andar a vista para a esplanada da taberna em frente, porque atraía bicharada…

O corte da árvore foi adiado anos sucessivos. Porém o muro que vedava a propriedade, empurrado pelo tronco da acácia cada vez se inclinava mais e o risco de rotura era evidente. Esperou-se o Inverno e a sua dormência para o abate da Acácia. Num dia sem planeamento chamou-se um serrador e a árvore foi decepada.

O seu corte constituiu espectáculo para a vizinhança e para os costumeiros fregueses da taberna. O esforço na recolha de toda a ramagem da árvore e o seccionamento do tronco, deixou sequiosos os amigos do petisco e abriu-lhes o apetite. O taberneiro viu o negócio do “snack-bar” aumentar. O abate da árvore quebrou o tédio e diluiu a sobriedade na medida do aumento do número de rodadas ensopado pelos convivas, daquela tarde ensolarada de Inverno.

Ficaram aqueles troncos cortados como relíquia da hospitalidade que a árvore dispensava a chapins e felosas, melros e milheirinhas. Da Acácia nasceram várias esculturas, relicários em forma de mão, de coração… No sítio da Acácia nascem agora as flores brancas do jasmim e do aloendro, a flor de S. José, o carpinteiro.
A mão foi esculpida em madeira de Acácia.

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