quinta-feira, 12 de maio de 2016

Para melhor compreensão das esculturas de Beatriz Cunha. O "MEMORIAL À IMPERMANÊNCIA".



Montagem da peça Memorial à Impermanência.

MEMORIAL À IMPERMANÊNCIA
(portal para outra dimensão de nós mesmos)

As portas são uma metáfora para a liberdade e para a intimidade. Quando abertas permitem a passagem de um espaço para outro. Quando fechadas encerram e tornam privado o que se quer proteger e reservar. Diversas são as portas: na sua transparência, na sua solidez, na sua permeabilidade e assim também no seu objectivo. As portas podem guardar o sagrado, e de igual modo podem guardar o assustador e o terrível. Num e noutro caso parecem isolar-nos do medo. É preciso vencer o medo quando se escolhe abrir uma porta, quando em fuga se deixa uma realidade por mais horrível que ela possa ser por outra totalmente desconhecida.


As cadeiras são o símbolo de poder. Na Europa cultivou-se a imagem do poder soberano associando-o a uma cadeira grande, um trono. Os portugueses das navegações sentavam-se em cadeiras enquanto os representantes dos povos que os recebiam se sentavam no chão. Na língua inglesa, aquele que preside ainda é o homem da cadeira, o “chairman”. A cadeira é a imagem que aos outros damos de nós próprios, é o ego. Simultâneamente a essência do ser, naquilo que ele tem de mais imaturo e naquilo que ele tem de mais evoluído e transcendente.


Estas portas já não guardam relíquias ou tesouros, não se podem fechar à chave. Continuam porém a consagrar a função para a qual foram concebidas, em conjunto formam um portal. Uma pausa no átrio onde cada um se situa face ao momento seguinte. Nelas ainda é legível o desvelo na sua construção: os vidros biselados que deixavam ver as porcelanas antigas vindas da China, as aberturas por onde se desprendia o aroma das maçãs que amadureciam ao longo do Inverno… Lado a lado com as portas os fragmentos das cadeiras aparecem como uma liberdade poética de tudo isto. A sua disposição no conjunto cria no olhar uma dinâmica rotativa de movimento. A transitoriedade do que foi outrora sólido e institucional, do que foi tirânico e inamovível.

O “MEMORIAL À IMPERMANÊNCIA” é um memorial a nós próprios, mas também aquilo que nos oprime e que julgamos definitivo.

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