sexta-feira, 20 de maio de 2016

Passarão labaredas.

Encontrei um saco de fotografias abandonadas.
Lado a lado as fotografias revelavam uma interveniente principal. Contavam a história de uma vida da qual eu nada sabia. O tempo concentrado em imagens, acontecendo  ao mesmo tempo. 
Por mais que eu tentásse construir uma narrativa não seria possível sequer adivinhar os sentimentos, os sonhos; as sensações daquela pessoa. 
Aparecia bebé de colo nos braços de sua mãe. Menina de escola primária no vestido da primeira comunhão. Um retrato emoldurado de adolescente esplendorosa... e escondida por baixo desse retrato,  a fotografia do casamento. Em pose institucional os noivos. Para que assim fosse lembrada a felicidade. Aquela que se envia à família e se guarda emoldurada no quarto para que diáriamente não seja esquecida. 
Uma fotografia anotada no verso dizia "vista do meu quarto", outra "os filhos da Zézinha"...
Depois pensei que quando partirmos as fotografias do nosso tempo não permanecerão. São virtuais. São mais perto de tudo o que já existiu e é transitório. São como uma labareda. 
Lembrei-me então do Álvaro de Campos e da "Tabacaria", e apesar da hora matutina, ou talvez por causa dela, entrei na taberna e pedi um branco velho. Se fumásse seria o momento de acender um cigarro; um pensativo cigarro.

2 comentários:

Maria Eu disse...

Belo texto e fantástico trabalho, como é hábito!

Beijinhos :)

Luis Filipe Gomes disse...

Obrigado Maria Eu!